Justiça X organização
Olhei para aquele homem e senti que ele iria falar comigo, tentei fingir não vê-lo, olhei pra frente como se aguardasse o sinal, tão ansioso quanto os outros.
Mas na verdade minha ansiedade era um temor de saber que algo iria acontecer...
Mesmo olhando pra frente, fingindo ignorar, mesmo escondido no meio da multidão, de rostos tão parecidos e ansiosos, aquele homem veio ao meu encontro.
E como se fosse algo natural e normal, ele parou em minha frente, com a intimidade de um amigo e disse:
Sabe o que me veio na cabeça agora quando vi você?
Você acha que a justiça está satisfeita que o estilo de organização estabelecida por esta sociedade fardada e organizada em pais, mães, filhos, tias, tios, avós primos e primas...??
O sinal se abriu...
Todos seguiram o fluxo... Mas eu fiquei... Só eu e o homem.
Eu não consegui ignora-lo, não consegui ser surdo a esta voz que falava de coisas do alto, sim, pra muitos um mendigo, um louco talvez, mas pra mim um profeta urbano.
Ele prosseguiu e disse: eu estou falando de Justiça!
Você acha que essa organização está de acordo com a Justiça?
Eu não tinha palavras, apenas movimentava minha cabeça e repetia: é verdade, é verdade...
Novamente olhei em volta e lá estava: uma nova multidão, cega aquele homem desprezado.
Novamente aguardavam o sinal, enquanto parei e observei ele virou as costas, como se já tivesse feito sua parte.
O sinal se abriu e eu segui o fluxo, mas não mais como os que seguiam... não mais...
Saparada é o Amor: ouvir Deus em todas as coisas!